O Sedentário

terça-feira, abril 27, 2004

Reflecte, conclui...

O excesso,
ao amadurecer,
produz a espiga do erro.
E no tempo da ceifa
apenas se recolhem lágrimas...


Ésquilo

domingo, abril 25, 2004

ABRIL, 25 - Grândola a tua vontade

À quadragésima oitava hora, percebi o que ainda havia para perceber. Quis, imbuído da esperança dos que ensandecem na vertigem da janela escancarada, levar uma Chaimite ao Carmo e ameaçar desfazer as paredes de um quartel – o último; à bala; a morteiro; e ver esboroar manchas mofosas e essências insalubres de estuques velhos, plenos de sulcos, imponderáveis e degenerações exangues. Proclamar a liberdade – a minha. Oferecê-la na forma de um cravo enrubescido a quem quer que estendesse uma mão. Ao virar de uma esquina, um amigo. Ou dois. Ou três. E a liberdade a iluminar rostos de igualdade. Então, já não a minha – a de todos.

À quadragésima oitava hora, entendi ser tempo de disseminar o derradeiro comunicado – aqui, posto de comando do pronunciamento do tórax!. Depois disso, apontar às molduras e fazer render os rostos encostados ao vidro frio – o rosto, creio ser apenas um, há muito obturado pela censura; coronéis velhos como os estuques, assombrações, a rabiscar círculos toscos e cruzes caóticas com o lápis azul. Substituí-los pelas mãos estendidas, as duas ou três mãos vindas de rostos que deixara iluminados, se não olhos nos olhos, pelo menos sonho no sonho ou alma na alma. Virar a lente para mim e pressionar o botão até que o extremo do dedo doesse, estriado.

À quadragésima nona hora, dobro o mapa, furto às janelas os cobertores e arregimento num bloco coeso os papéis espalhados sobre as mesas. Decido entregar o poder, levar o povo às urnas num domingo ensolarado, os bombeiros a trocarem tostões nos capacetes por autocolantes pequenos nas lapelas – escolham, decidam, tomem nas mãos o fio dos vossos dias. Este poder que, percebo-o agora, nunca foi propriedade dos meus bolsos. Ainda bem que os canhões da fragata e os morteiros da Guarda não apontaram com vontade à minha testa, penso; acrescentando apressadamente: vou ver se comemoro, daqui a um ano, o meu primeiro feriado.

sábado, abril 24, 2004

ABRIL, 25

Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas portuguesas apelam a todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os Portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração, que se deseja, sinceramente, desnecessária.

ABRIL, 25

Considerando que, ao fim de treze anos de luta em terras do ultramar, o sistema político vigente não conseguiu definir, concreta e objectivamente, uma política ultramarina que conduza à paz entre os Portugueses e todas as raças e credos;

Considerando que a definição daquela política só é possível com o saneamento da actual política interna e das suas instituições, tornando-as, pela via democrática, indiscutidas representantes do Povo Português;

Considerando ainda que a substituição do sistema político vigente terá de processar-se sem convulsões internas que afectem a paz, o progresso e o bem-estar da Nação:

O Movimento das Forças Armadas Portuguesas, na profunda convicção de que interpreta as aspirações e interesses da esmagadora maioria do Povo Português e de que a sua acção se justifica plenamente em nome da salvação da Pátria, fazendo uso da força que lhe é conferida pela Nação através dos seus soldados, proclama e compromete-se a garantir a adopção das seguintes medidas, plataforma que entende necessária para a resolução da grande crise nacional que Portugal atravessa (...)


Intróito do Programa do MFA

ABRIL, 25

Grândola vila morena
terra da fraternidade
o povo é quem mais ordena
dentro de ti ó cidade.

Dentro de ti ó cidade
o povo é quem mais ordena
terra da fraternidade
Grândola vila morena.

Em cada esquina um amigo
em cada rosto igualdade
Grândola vila morena
terra da fraternidade.

Terra da fraternidade
Grândola vila morena
em cada rosto igualdade
o povo é quem mais ordena.

À sombra de uma azinheira
que já não sabia a idade
jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade.

Grândola a tua vontade
jurei ter por companheira
à sombra de uma azinheira
que já não sabia a idade.

sexta-feira, abril 23, 2004

...because

É sempre magra a féria de quem burila milhares e milhares de palavras, jornada sobre jornada, mês sobre mês. Acaso vestisses farda, era de um soldo que falaríamos. Magro, também. Se, por aí, ninguém desce à trincheira para um simples "obrigado", estamos cá nós, que sabemos algo sobre as dificuldades do Exército Vermelho na travessia do Volga. Tu, querido camarada da 284ª Divisão de Atiradores Siberianos, és o nosso Zaitsev. Firme, portanto!...

quinta-feira, abril 22, 2004

Langsam, Schleppend/ Im Anfang Sehr Gemächlich, Naturlaut

Uma amizade também é feita disto. Vincava o relógio a meia-noite e a Filarmónica de Amsterdão levava os embalos doces de Mahler a cada um dos cantos do meu quarto e interstícios do meu cérebro. Lembrei-me, então, do amigo que me disse, num dia como os demais, ter escolhido pertencer, também, à pátria de Gustav. Não sei, palavra que não sei, se devo imputar responsabilidades à sonolência da ducentésima página de Feuerbach; o certo é que dei por mim sentado, algures em Steinbach, a ver o meu amigo a agitar, sorridente, uma batuta - não sei se a da vida. Vi, com recurso a delírio semelhante, a sua sinfonia mais luminosa, que por esta altura já deve andar a ver se traduz para Português as supremas questões filosóficas de quem veio ao mundo há pouco tempo.

quarta-feira, abril 21, 2004

"Para a voz de Portugal ser maior"...

De acordo com o Diário de Notícias, a Aliança Atlântica anda insatisfeita com os gloriosos e submersíveis desígnios do ministro de Estado, da Defesa e de a Pátria honrai que a Pátria vos contempla. Num documento classificado da NATO, revelado ao jornal por esquivas "fontes aliadas", pode ler-se: "Portugal tem pouco dinheiro e o pouco que tem será desperdiçado na compra de submarinos, tendo-nos pedido que justificássemos tal opção. Não o faremos".

Então mas a aquisição de submarinos para a Armada não havia sido decidida no quadro da modernização do equipamento das FA, exigida pela Aliança Atlântica? Pois. O problema, explicam as "fontes aliadas" do Diário de Notícias, é que os novos submarinos - que vão render os charutos remendados a rebite da classe Albacora – não se encontram à cabeça das prioridades enunciadas pela NATO, que queria ver os milhões de Lisboa aplicados noutro tipo de equipamentos navais – mais úteis, digamo-lo assim.

A própria Armada, preocupada com a impaciência do depenado contribuinte ante caprichos bélicos e afins, terá solicitado à NATO, em Novembro de 2003, uma espécie de chancela pública do devaneio naval. O "tenham mas é juízo!" da Aliança Atlântica não tardou. Mas que importa isso? A vontade do almirantado e do senhor ministro vale por cinco NATOs e o consórcio alemão GSC sempre vai receber os seus 770 milhões de euros – sempre é menos do que o governo socialista admitia desembolsar por três navios: 1.700 milhões de euros! - para fabricar dois submarinos.

Para quando o desenvolvimento da primeira ogiva nuclear portuguesa?

Conhece-lo?

Acordei em sobressalto a meio da madrugada. Era a chuva que castigava, impiedosa, o plástico das persianas; e, igualmente cerrado, o tormento que me levara ao fecho das pálpebras e ao trespasse do eu mundano. Daí a escassas horas, recobraria os sentidos com a indiferença habitual. Agora sem o sobressalto e a vertigem do sono furtado; definitivamente. Apreciei, então, a solidariedade meteorológica. Sorri falsamente e virei o leme para a banheira.

terça-feira, abril 20, 2004

"Está confirmado"

Em alarve desconsideração pelas bondosas três almas e meia que, dia sobre dia, escrevem "http://osedentario.blogspot.com" no miraculoso produto do potentado Gates, fiz tábua rasa da trindade sabática. De três passei a onze. Ainda venho a tempo, porém, de partilhar convosco, abnegados masoquistas que despendem nauseantes rotações dos ponteiros das vossas cebolas na leitura de O Sedentário, a revelação celestial que me foi induzida por uma chanfana; chanfana essa mastigada, este fim-de-semana, às portas de Oliveira do Hospital. Os comunistas, confidenciou-me o estaladiço caprino entre um naco de broa e meio copo de tinto, só podem ser criaturas do Senhor como as demais, ou então não veriam qualquer interesse nas virtudes da caçarola de barro fusco. Hoje, dois dias após a experiência religiosa, obtive, por parte de um dos beatíficos membros da Loya Jirga blogueira, a confirmação de que sou "gente como a outra", o que me traz a transbordar de contentamento e a celebrar uma espécie de epifania íntima. O que ainda não senti no lombo foi a sola do Saramago das "batatinhas", mas também não deve tardar...

quinta-feira, abril 08, 2004

Por aqui?

Mafra para trás, Ericeira por diante, um pardal enfuscado sobrevoa-me o tejadilho, acompanha-me por segundos para lá da proa e inverte inesperadamente a trajectória num magistral golpe de asa. Questiono-me: estarei na rota acertada? Por via das dúvidas, O Sedentário fica órfão durante três dias.

quarta-feira, abril 07, 2004

Reminiscências

Tio António fogueteiro, artífice da pólvora e demais preparados explosivos, sulcava o macadame com os pneus do Taunus cor de breu quando foi confrontado com uma preambular litania da morte – "Desapoquenta-te com a alvura dos estofos e põe os olhos na burra que aí vem, que se me afigura enfeitiçada pela Senhora de Fátima que enforcaste no espelho retrovisor!". Quis o fado abençoado de tio António fogueteiro que a morte o não levasse pelo choque frontal com a asna, geometricamente detectada num providencial milésimo de segundo. Foi tamanha a veemência da sola no travão, que os calcanhares da mãe de Jesus sapatearam a três tempos no pára-brisas.

Sustido o ronco medonho do Taunus, e enquanto a burra não corrigia as coordenadas, tio António fogueteiro capitalizava o hiato para pôr termo à peleja com um cisco persistente, que emprestava minuciosa fealdade ao branco do assento. Quis um outro fado, borrifado a trouxe-mouxe de água benta, que a burra se detivesse à ilharga da chapa negra, desferindo um olhar clínico às higiénicas diligências de tio António fogueteiro. E quando finalmente se decidiu a zarpar rumo aos pastos da fazenda, achou conveniente enfeitar à guisa de chancela a grelha do Taunus, que aspergiu sumariamente com o produto da tripa arreliada pela carqueja. A morte, cansada de esperar pela hora convencionada, aproveitou a ira do tio António fogueteiro e fulminou-o de uma penada.

terça-feira, abril 06, 2004

EMBUSTES

Isto diverte-me... Arenga-se sobre o PCP com uma tal propriedade, que chego a ficar confuso. O PCP assim pintado – o partido do "irrealismo habilidoso que dura, pelo menos, desde 1989" – é o PCP a que pertenço? A direita - e os meninos de coro que a compõem - não conhece, e não quer conhecer, as entranhas do PCP, que, entretanto, parece que "confessou(!) a sua morte". Mas o que é preciso é escrever em termos veementes e ácidos; assim, mesmo que não se perceba patavina dos temas que se utilizam para exercitar vaidades, faz-se figura entre os pares. "Pares"?! Peço desculpa: isso dos "pares" é coisa de comunistas; e comunistas, como se sabe, é coisa que já não há...

segunda-feira, abril 05, 2004

Vivaldi

A ideia de uma Primavera redentora, que tudo renova e tudo endeusa, aborrece-me até ao extremo das unhas. Aborrecia-me. Esta manhã, enquanto provava o grão de Nabeiro e lia negligentemente o Público, fiquei a saber que a Primavera tem um metro e setenta, longos e espiralados cabelos castanhos, gosta de torradas e galão, lê com sobrancelhas graves o Diário Económico e liberta um perfume semelhante a gás de hipnose. Estou a rever a minha propensão para a estética da folha outonal.

sexta-feira, abril 02, 2004

EM BRANCO

Mordi o isco mercantil lançado pela Caminho a propósito do lançamento de Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago. Não posso, também, escamotear que a discussão atiçada pelas (cada vez mais) prosaicas teses políticas do autor, alcandorado nas glórias complacentes de um Nobel da Literatura, não esteve à margem da decisão; um ímpeto anormalmente lesto de subtrair o romance ao escaparate e começar, de imediato, a desvendar-lhe os meandros.

Preferi passar pela epígrafe – "Uivemos, disse o cão" (Livro das Vozes) – como vento frouxo pela espiga. Porque o uivo, no caso do escritor português, é mais expressão de azedíssima descrença, manifestada em golpes de punhal a cada cirúrgico regresso do exílio a que se entregou, e menos apelo ao agitar das águas estagnadas em que o país governado se deixou aprisionar. Chamado a explicar-se nos púlpitos da comunicação social, que tanto odeia e de que tanto precisa, José Saramago tratou de coarctar a soberania do futuro leitor de Ensaio sobre a Lucidez. Se, quanto à fábula em 329 páginas, já pouco poderia contrapor, reservei-me pelo menos o direito de roçar, despreocupado, a exclamação canídea.

As considerações públicas do Saramago oral apartam-se da mensagem do Saramago escrito. E se o primeiro não inquina, lamentavelmente, a arte do segundo, é porque há um Prémio Nobel que lhe oferece a blindagem. No início desta semana, escorado, no auditório do Centro de Congressos de Lisboa, por Mário Soares, Marcelo Rebelo de Sousa e José Barata-Moura, o autor equiparou o uivo à "acção". Uma "acção" que José Saramago parece confinar ao microcosmos do voto em branco, por si apresentado como uma espécie de panaceia para os cancros do sistema representativo.

O Nobel da Literatura, comunista desiludido com os moribundos "faróis" do marxismo-leninismo, entristecido com a cegueira voluntária da ortodoxia, baralha-se na insanável contradição entre aquilo que, aflorando o pueril, apresenta como a "descoberta" de uma vida - a "arma" do voto em branco – e a "expressão de fidelidade", as palavras são suas, que é a inclusão do seu nome, em lugar não elegível, na lista do PCP às eleições europeias. Saramago bem pode arvorar-se num discurso de activa militância contra a ancilose da democracia representativa, que só não diagnostica quem tem algo a perder com o seu abalo. Porém, o que vem defendendo não é a "acção". É a desistência.

Uma raridade no actual registo pardacento do escritor foi a preocupação, manifestada durante o debate acima referido, com a possibilidade de o livro vir a ser "posto de parte como objecto literário, focando-se a atenção no lado político que assumidamente tem". A verdade é que o "objecto literário" cedo se quedou obnubilado pelas diatribes disparatadas de José Saramago. É pena.

Ensaio sobre a Lucidez não é um portento de literatura e não se lê, ao contrário do que sustenta José Barata-Moura, como um romance "alegremente sério e incómodo". Ensaio sobre a Lucidez é, parece-me, uma efabulação bela, tristemente séria e pouco ou nada incómoda. Estão lá as conhecidas, e para alguns insuportáveis, minudências de estilo de Saramago, o afiado humor e a certeira ironia, a adjectivação científica e o brilhantismo do discurso directo. Mas, sendo um saboroso pedaço de leitura que prende a sede de quem o sorve ao terceiro ou ao quarto parágrafo, anda longe de constituir um "fazedor de consciências", uma "pedrada no charco". Tal é o extremo das soluções narrativas que Saramago talha a partir de uma premissa escandalosa: oitenta e três por cento de votos em branco depositados nas urnas pelos eleitores de uma familiar "capital".

Há, no livro de José Saramago, imagens de uma tocante e quase esperançosa beleza herdadas da matriz, Ensaio sobre a Cegueira, tais como - são exemplos entre muitos - as passagens sobre as mulheres da capital sitiada que decidem tomar em mãos a limpeza das ruas, ou as marchas ordeiras dos cidadãos na esteira de um atentado cozinhado pelo governo. Mas o que o Nobel deu à luz foi um manifesto sobre o estertor da crença; desesperança incurável nos profissionais da política, desesperança virulenta nos media e desesperança paternalista nos governados. Isto não incomoda. Deprime.

quinta-feira, abril 01, 2004

"... bola colorida entre as mãos de uma criança"

Consumou-se, no PS, a tradicional rotatividade das tachadas; e a consequente tragédia. António José Seguro vai acoplar-se, até 2006, ao assento da liderança parlamentar socialista, a que se furta um António Costa mais interessado nos saborosos remansos de Estrasburgo. E fá-lo abençoado pelos votos aprovadores de 75 dos 96 deputados que compõem essa poderosa frente de combate que é o PS na Assembleia da República. Foram 15 os miseráveis recalcitrantes que, absolutamente cegos, claro está!, não viram em Tozé as qualidades de um timoneiro. Outros cinco deputados acharam por bem anuir às exortações de Saramago.

De acordo com o novel ocupante do poleiro, a expressiva aprovação da sua lista "corresponde à preocupação central de fazer da bancada socialista um grupo coeso e concentrado na tarefa de fazer oposição construtiva ao Governo".

E que melhor expressão de um grupo que se quer "coeso" do que o novo elenco da direcção parlamentar? Afonso Candal, Manuela de Melo, Manuel Maria Carrilho, Guilherme d’Oliveira Martins, José Magalhães, Ana Benavente, Rui Cunha, José Junqueiro, Jamila Madeira, Mota Andrade, Ana Catarina Mendes, Jorge Strecht Ribeiro...

A "oposição construtiva ao Governo" continuará, portanto, a cargo do Bloco de Esquerda.

O Sedentário por mão alheia

Por ocasião da mudança de instalações, a RTP e a RDP decidiram fazer uma festa ao jeito do Piquenicão. Durante longas e fastidiosas horas, entraram no alegre convívio do "serviço público" velhas doidas, turistas, excursões, benefícios, cronistas, aldrabões, marialvas e coristas (Ary dos Santos que me perdoe). Para além de uma bem nutrida comitiva ministerial, um cardeal patriarca, que aspergiu e abençoou a "oitava maravilha do mundo", e ainda vários elementos da administração da televisão pública.

No decorrer desta festa de regime, as entidades oficiais, como de costume, botaram faladura. Durão Barroso, que descerrou uma placa comemorativa de tão glorioso edifício, balbuciou as banalidades rotineiras sobre o "serviço público", realçando a subida das audiências "sem ceder ao mau gosto e ao populismo mediático".

Tendo em conta que a RTP1 tem por base uma grelha que assenta em concursos (para quando um Preço Certo em Rupias?), programas recreativos (com a presença dos habituais cançonetistas portugueses, ao melhor estilo da TVI e da SIC) e futebol "de interesse público", como apregoa um inenarrável spot da estação, não está mal.

Esta operação de propaganda foi tão estimulante quanto a inauguração de um chafariz em Cotonou, no Benim.

Sem mais,
A. Pereira


Nota de rodapé: o comité de gestão agradece.