sete horas e quarenta e três minutos
Tem graça. Palavra que tem graça: solevantar assim os olhos sepultados em pregas de pelanca castigada e descobrir um quasar na fivela do teu cinto, ou nos caprichos de filigrana que transportas nos lóbulos; hoje. Ontem, por esta hora – a biografia de Zósimas pela mão de Alexei Fiodorovitch Karamazov a acordar-me no desconforto geométrico de um pequeno muro de betão, na companhia de um salgueiro doente de diesel e melancolia -, assevero-te que vi cachos de cerejas nas cornucópias das tuas orelhas; e no regresso às páginas sopradas para trás e para diante por um vento de bairro triste, Marcelo, o primogénito, zombava da Quaresma e do jejum - «Deus não existe» -, ao passo que o teu umbigo destapado desenhava hipérboles de leste a ocidente na esquadria do passeio, zombando, a seu tempo, da minha fome.
- Bom dia – dizes-me hoje num sorriso malandro, como se soubesses que prefiro as cerejas aos corpos celestes.